Muitos recursos têm sido destinados para apoiar o processo de ensino-aprendizagem de alunos cegos. Dentre as opções tradicionalmente utilizadas no ambiente escolar, pode-se citar: o sistema Braille, o Geoplano, o Multiplano, o Soroban e ábacos adaptados. A seguir serão apresentados alguns desses recursos.
O Sistema Braille corresponde a um sistema de escrita e leitura tátil para as pessoas cegas. Foi inventado em 1825 pelo francês Louis Braille, um jovem cego. Esse sistema baseia-se em seis pontos em relevo dispostos em duas colunas, possibilitando a formação de 63 símbolos diferentes, que são empregados em textos literários nos diversos idiomas, como também nas simbologias matemática e científica, em geral, na música e, recentemente, na informática (LEMOS e CERQUEIRA, 2014).
Figura 1: Exemplos de símbolos do alfabeto Braille.
A Figura 2 apresenta um exemplo de documento escrito usando o sistema Braille, e a leitura tátil sendo feita pela mão direita do leitor. O exemplo de documento apresentado utiliza a impressão frente e verso.
Figura 2: Leitura tátil de documento escrito usando o sistema Braille.
As Figuras 3, 4 e 5 apresentam recursos utilizados para fazer a impressão dos caracteres do sistema Braille em folhas de papel. A Figura 3 apresenta uma reglete e punção, que permitem a escrita manual de cada um dos símbolos. A reglete é uma régua de 4 linhas e 28 celas com orifícios retangulares vazados que servem como guia às células Braille. O punção é usado para pressionar o papel e formar o relevo, e refere-se a uma ponta de aço adaptada para a marcação dos pontos nos orifícios da reglete. Na escrita com a reglete, a cela é invertida para produzir os pontos em relevo na ordem da leitura.
Figura 3: Reglete e punção para escrita em Braille.
A Figura 4 apresenta um exemplo de máquina de escrever em Braille, uma máquina datilográfica também chamada de Perkins-Braille. Essa máquina de escrever possui somente nove teclas, e segundo Reily (2004, p, 154): “A tecla central é utilizada para dar os espaços; a função da tecla da esquerda é mudar de linha e a da direita é fazer o retrocesso. As outras correspondem aos pontos 3, 2, 1 e 4, 5, 6, nessa ordem”. Esses pontos referem-se a pontos da cela Braille.
Figura 4: Máquina de escrever em Braille.
A Figura 5 apresenta um exemplo de impressora Braille, que permite a impressão automática dos caracteres, viabilizando inclusive a impressão frente e verso. Mais recentemente, pesquisas têm sido realizadas com o objetivo de desenvolver tablets táteis, que exibem conteúdo em Braille para permitir que cegos possam navegar por arquivos e páginas da web.
Um exemplo desse tipo de recurso é o Blitab (https://blitab.com/), que é como um e-book que, em vez de usar uma tela, exibe pequenas bolhas físicas.
Figura 5: Impressora Braille.
O Soroban, apresentado na Figura 7, é um dispositivo usado para a realização de operações básicas e fracionárias. Conhecido como Suan-Pan pelos chineses, foi introduzido no Japão pelo professor Kambei Moori, e trazido ao Brasil por volta de 1908 pelos imigrantes japoneses. Após alguns anos, o professor Joaquim Lima de Moraes fez uma adaptação para pessoas com deficiência visual, acrescentando uma borracha compressora localizada entre os eixos e a estrutura externa (XAVIER e SANTIAGO, 2019).
Também com objetivo de realizar operações matemáticas, alguns profissionais têm criado ábacos adaptados, como por exemplo usando quadro de pregas ou copinhos que dividem classes e ordens.
Figura 7: Soroban.
O Geoplano e o Multiplano são recursos utilizados para representação tátil. Correspondem a materiais concretos que permitem alguma exploração espacial e são utilizados com frequência no ensino de matemática para cegos.
Segundo Costa (2013), o geoplano “é uma ferramenta para o ensino da matemática por permitir uma abordagem diferente na resolução de problemas, relacionando espaço e forma, grandezas e medidas, números e operações, além do ensino de geometria plana elementar, para o ensino de conceitos de frações, dentre outros. O geoplano é confeccionado em madeira, onde são fixados pregos formando um quadriculado.
Figura 8: Geoplano. Fonte da imagem: Geoplano (2021).
Já o multiplano, apresentado na Figura 9, é fruto de uma iniciativa do professor Rubens Ferronato, que em 2000 criou um instrumento inspirado no geoplano, feito de uma placa de qualquer material ou tamanho, com furos na mesma distância, com linhas e colunas de forma perpendicular que caracterizam um plano cartesiano, onde são colocados pinos e, entre eles, elásticos que formam retas (COSTA, 2013). O multiplano é usado para o ensino e construção de conceitos geométricos, permitindo ao aluno fazer gráficos, figuras geométricas, entender conceitos de equações e funções e cálculos avançados, além de entender melhor volume e distância (DE MORAES e TREICHE, 2018).
Figura 9 Multiplano. Fonte da imagem: Multiplano (2021).
GEOPLANO. Matematicando. Disponível em: http://odin.mat.ufrgs.br/matematicando/imagens/geoplano10.jpg. Acesso em 15/12/2021.
MULTIPLANO. Kit Multiplano Braile com Manual de uso + 100 video aulas. Disponível em: https://multiplano.com.br/produto/kit-multiplano-braile/. Acesso em 15/12/2021.
SASSAKI, Jorge et al. An assistive resource for reading mathematical formulae for people with visual disabilities in the Brazilian context. 2018.
STEVENS, R. D, 1996. Principles for the design of auditory interfaces to present complex information to blind people (Doctoral dissertation, University of York).
TECNOBLOG. Blitab é um tablet que exibe conteúdo em braille. Disponível em: https://www1.tecnoblog.net/180531/blitab-tablet-braille/. Acesso em 15/12/2021.
XAVIER, T. M. A. M., & Santiago, Z. M. A, 2019. O soroban como instrumento de aprendizado na formação de professores do ensino básico. In 4 Congresso Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências. Recuperado a partir de: https://editorarealize. com. br/revistas/conapesc/anais. php.